segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Todo mundo quer falar, mas...

Havia um tempo em que a direita se inspirava em caras como Adam Smith e Milton Friedman. Hoje, a fonte de inspiração da reação facebookeana vem de sujeitos da estirpe de Lobão e Danilo Gentili. Sujeitos de discurso fácil, mas, ao mesmo tempo, tão vazios que só podem agregar à quem carece de conhecimento dos processos históricos e até mesmo de valores ideológicos básicos. Não que eu tenha alguma vez admirado as ideias de  gente como Milton Friedman, muito pelo contrário, mas é incrível como as coisas são capazes de piorar.

É nítido que a grande massa, voraz por participar das discussões políticas, muitas vezes têm dificuldade em reconhecer conceitos tão básicos e, diria mais, essenciais para uma discussão saudável, como os paradigmas que definem se uma ideologia está localizada à esquerda ou à direita da sociedade. Com isso, vemos um fenômeno que se atenua cada vez mais na população brasileira e que pode ser percebido principalmente nas redes sociais: o analfabetismo político-funcional. Este "fenômeno" cria bizarrices que, se não fossem trágicas e perigosas, parecem ter saído de alguma piada de mal gosto feita por estudantes de sociologia bêbados em uma mesa de bar qualquer ao comemorar o final do semestre. Dentre elas: 

- o pobre de direita, fruto do total desconhecimento do significado das correntes ideológicas. Ora, ser pobre e ser de direita é como ser colorado e torcer para que o grêmio ganhe o campeonato. Mais detalhes no vídeo abaixo.

- o umbiguista, que já usufruiu de bolsas criadas ou ampliadas exponencialmente pelo governo vigente, como bolsas para estudos (ensino técnico profissionalizante, graduação mestrado, doutorado, etc), e ainda assim considera um absurdo o caráter assistencialista do governo para com as famílias de regiões historicamente desassistidas, pois, graças ao ensino profissionalizante gratuito que teve acesso, felizmente não depende mais de nenhum programa social e, portanto, dane-se o resto.

- o xenófobo, que acredita que aqueles que usufruem de benefícios sociais são, sem restrições, vagabundos, tratando o povo nordestino com preconceito por ser o estado que, por razões históricas, tem uma maior dependência de programas sociais para o desenvolvimento da economia local. Muitos usam o famigerado argumento de que não se deve dar o peixe, mas sim, ensinar a pescar. Eu mesmo já usei este argumento, mas, após deixar o preconceito de lado e pesquisar com um pouco mais de sede pela verdade, me deparei com diversas mazelas sociais que o nordeste brasileiro sofreu e ainda sofre. Muitas das quais com origem ainda no período colonial e que por muito tempo foram desprezadas pelos governos que passaram por este país, legando aquele povo à miséria e tratamento desumano. Hoje sabemos que com 0,48% do PIB é capaz de resolver uma mazela histórica e ainda assim movimentar uma economia que até então estava estagnada e, para muitos, não tinha solução. Graças às famílias que hoje podem comprar um alimento melhor, foi possível expandir as redes de comércio das localidades, diversificando as fontes de geração de renda. Essas políticas levaram o Nordeste a ter um crescimento do PIB de mais de 4% no primeiro semestre de 2014.

Infelizmente  ainda  vemos  incontáveis  bizarrices  grotescas  como, por exemplo, o medo da invasão comunista.  Mesmo   argumento   que   conduziu  o  Brasil  aos 21 anos mais negros da sua história, e AINDA  ASSIM  o  povo  não  aprendeu. Exatamente  porque  desconhece  a  própria história. Ora, o preconceito tem origem na ignorância, no medo do desconhecido e pela ilusão proporcionada pela zona de conforto. Quanto  mais se desconhece a realidade e o que nos trouxe até onde estamos, maior é a recorrência ao fascismo que hoje está tão na moda, liderado por Bolsonaros, Malafaias e similares. Só espero que este  povo, ávido por discutir política, estude  a sua história, conheça a realidade, perca o preconceito e tenha noção das mudanças que clamam pro seu futuro.

Os governos no Brasil, do legislativo ao executivo, têm várias deficiências e problemas seríssimos que talvez eu dedique um post inteiro pra criticar e fazer este brainstorming  que me é tão necessário. Neste post eu resolvi focar apenas em alguns pontos absurdos que estão pipocando nas redes sociais nesta ressaca pós-eleições, os quais eu não poderia deixar passar sem agregar as minhas experiências baseadas nas pesquisas que faço por ser um estudante curioso da nossa histórica e, consequentemente, preocupado com o momento em que vivemos.



P.S.: Nunca é tarde para aprender. Este vídeo do PC Siqueira é uma ótima introdução para compreender, superficialmente, o que difere a esquerda da direita e escolher, de forma consciente, um lado. Não é tudo, mas é um bom começo.





Leia também:


Revolução Russa de 1917:


Isso já é um bom começo. Agora sai do facebook e vai aprender alguma coisa. ;)