terça-feira, 18 de junho de 2013

A primavera brasileira: do pão e circo ao despertar político de um povo.


O povo tomando o congresso nacional em protesto. Fala a verdade, alguém aqui, pelo menos uma vez, sequer imaginou algum dia ver esta cena?
Há cerca de uma semana eu jamais imaginaria que isto iria acontecer no nosso, até então, país de um povo politicamente inerte ou, como os "politicamente corretos" diriam, um povo apolítico. Eu mesmo já me defini assim algumas vezes, e dizia isso cheio de orgulho. Houve um tempo em que ser apolítico me parecia a opção mais sensata.
Lembro que semana passada eu conversava com um colega de trabalho sobre as utopias do povo escandinavo: índices praticamente nulos de analfabetismo, sistema penitenciário capaz de reabilitar cerca de 80% da população carcerária, políticas de crescimento econômico apoiadas em programas culturais e demais conquistas que, para nós, soam intangíveis. Lembro ter falado que isso não é possível em um país como o Brasil pelo fato de sermos um povo acomodado, conformado com a atemporal e igualmente eficaz política do pão e circo, um povo onde o futebol faz parte de 90% das rodas de conversa e as questões de grande impacto nas nossas vidas passam despercebidas.
Particularmente, a minha preocupação com a política é relativamente recente. Apesar de ter crescido em reuniões de partidos políticos, passeatas e demais manifestações onde acompanhava meu pai, a visão política de uma criança é, digamos assim, diferenciada. Nasci após o movimento das Diretas Já, tenho uma lembrança muito vaga sobre o impeachment do Collor e alguns flashes a respeito da morte do PC Farias. Ambas foram cenas que marcaram a minha infância, talvez por estarem na boca do povo na época. Mas, enfim, as discussões políticas nas quais me envolvia era algo como a vantagem de votos de um candidato em relação ao outro, nada mais natural pra uma criança do país do futebol. E, afinal, depois tem uma comemoração bem parecida com a de um time quando sai campeão, não é mesmo? Lembro que, por volta dos 15 anos, notei, durante a campanha presidencial, que não havia em lugar algum uma proposta ideológica clara que me fizesse optar por um partido ou uma coligação específica. Tudo era muito confuso e todos - sem querer fazer alusão à música dos Engenheiros - muito iguais, tal como nos dias de hoje. Percebemos, por exemplo, que o PT é um partido de esquerda mais por causa do símbolo do partido do que pelos projetos e ações da presidentA.
Devido a isso, nunca me filiei e nem votei em candidatos do mesmo partido. Percebi desde cedo que legenda e ideologia não caminham de mãos dadas no nosso país, de tal forma que é possível perguntar para um político o que difere um partido de esquerda de um de direita e ficarmos sem respostas. Entendia então o que mais tarde confirmaria como as minhas primeiras compreensões da decadência do nosso sistema político.
Digo, até com um certo orgulho, que foi a internet que me educou politicamente. Ou melhor, foi graças à internet que me eduquei politicamente, pois vemos aqui uma relação muito mais interessante de aprendizado, diferente dos métodos antiquados e nada atraentes aplicados nas escolas (outro setor que exige uma revolução).
Foi graças à internet que tive contato com movimentos ativistas e pensadores autônomos, sem deveres com governos e instituições que ditam o modo de vida das pessoas, que deram luz a vários dos meus questionamentos e me despertaram a curiosidade sobre conceitos como capitalismo, socialismo, esquerda, direita e porque NENHUM desses "ismos" e conceitos dão certo quando o assunto em questão é o bem-estar coletivo. Conheci diversos pensadores de vanguarda que, assim como eu e você, não estão contentes com o modelo educacional, econômico e político conduzido, não só no Brasil, mas no mundo todo.
Hoje percebo que essa mudança, essa epifania, é algo muito maior do que eu imaginava. Trata-se de um contexto no qual eu e você que está lendo este blog estamos inseridos, é uma revolução. Uma revolução diferente de todas as que a antecederam, onde a informação é a arma principal e a internet, através, principalmente, das redes sociais, é o principal campo de batalha. Estamos vivenciando um neo-iluminismo talvez sequer imaginado pelos grandes pensadores que influenciaram revoluções capazes de mudar as relações geopolíticas do planeta, como a Francesa e a Russa. Uma revolução onde a guerra é lutada com ideias. 
Estamos em um cenário inédito, onde as grandes mídias não são mais formadoras de opinião e sim meras argumentadoras que têm a função de propor debates. 
Hoje nós vemos um Arnaldo Jabor voltando atrás e pedindo desculpas por um comentário infeliz (quem aqui imaginaria uma coisa destas?). E não foi apenas o Jabor, vimos TODA a mídia mainstream voltar atrás e reconhecer as manifestações como um movimento democrático legítimo e não mais apenas uma coisa de "baderneiros que não valem nem vinte centavos". Isso jamais seria visto em um modelo de jornalismo unilateral, tal qual o praticado pela velha e viciada mídia dominada pelas gigantes emissoras e editoras deste país.
A era da informação que estamos vivendo permite que todos sejamos atores na disseminação da informação, capazes, pela primeira vez na história, de analisar a realidade por ângulos diferenciados, onde não é mais mostrado apenas o que é de interesse de uma minoria. Foi isso que impulsionou o Movimento Passe Livre e não permitiu que a manipulação televisiva colocasse o povo contra o povo.
Percebo que enquanto eu me educava politicamente, outras pessoas faziam o mesmo, levando as discussões para os fóruns e redes sociais, onde o povo alienado que só fala sobre futebol entendeu que o circo caríssimo compromete o acesso à saúde e educação de qualidade. Povo este que cansou de sofrer nas mãos de um governo que se intitula do povo, mas que lança mão de políticas neoliberais fadadas à decadência, com foco em um consumismo desenfreado que conduz a um círculo vicioso de endividamentos. Um governo com foco em políticas imediatistas em detrimento de projetos de infraestrutura, educação e inovação que, a longo prazo, trariam melhorias reais para o país.
Aprendemos empiricamente que a política praticada por aqui não permite esse tipo de progresso, pois vemos que todo e qualquer governo tem como base projetos realizáveis no prazo de 4 a 8 anos, visando, é claro, as reeleições.
Não espere que o partido X ou Y irá resolver a situação, o tempo já provou que eles não tem nem capacidade e nem vontade suficientes para isso. Nós precisamos de uma reforma muito maior e mais urgente. É por isso que todos nas ruas repudiam qualquer manifestação partidária que queira aderir aos protestos. Nós fomos enganados todo este tempo por siglas, slogans, símbolos e propaganda. Estamos cansados.
Vimos a máscara da nossa falsa democracia cair ao ver o Estado disparar contra os manifestantes um aparato repressivo não visto desde os tempos da ditadura, o que exige uma melhor análise da democracia que nos é vendida pela propaganda em relação àquela defendida na Grécia antiga. É muito fácil se definir um país democrático quando o povo é inerte e conformista, mas é quando o povo vai às ruas reivindicar seus direitos que uma democracia é colocada à prova.

Não estou dizendo aqui que as manifestações por si só irão mudar a realidade, mas, como a história nos mostra, as manifestações são o começo da mudança, são elas que mostram o descontentamento do povo e até onde ele é capaz de ir para melhorar a sua realidade. Um povo que não protesta, é um povo omisso e conformista.
Esta não será a última manifestação, a revolução é e sempre será permanente. O povo deve se manifestar em oposição a qualquer governo que não cumpra adequadamente o seu papel e, em tempos de impunidades revoltantes, construções de estádios homéricos e superfaturados enquanto pessoas morrem em filas de hospitais e analfabetos funcionais formam-se em universidades, a situação tornou-se intragável.

Nunca, até ontem, eu havia sentido na pele o siginificado da palavra patriotismo e o que é ter orgulho de ser brasileiro. Me emocionei ao ver o povo tomar o congresso exigindo os seus direitos. Pela primeira vez em muitos anos, acredito na capacidade do povo brasileiro em desencadear a mudança necessária para que esse país riquíssimo possa, finalmente, crescer. 

O gigante, sim, acordou.


Um comentário:

  1. Excelente seu texto Luiz Mário!!
    Estou acreditando que é um grande passo para nossa população no que diz respeito a acabar com o conformismo.

    Sempre defendi que política deveria ser incluída como matéria em nossas escolas, pois a nossa população infelizmente não acha isto importante e é MUITO!

    Infelizmente vivemos em um país onde 95% das pessoas não lembra em quem votou na última eleição, mas lembram quem ganhou o último Big Brother ou o nome da última protagonista da novela das 8.

    Mas com os últimos acontecimentos senti confiança no povo brasileiro, e como tu disse, uma revolução é o início de uma mudança! Espero que o Brasil acorde realmente!

    Abraço Brother!



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